Os principais clubes
brasileiros aumentam suas dívidas enquanto colecionam títulos. Eles poderiam
aproveitar a Copa para repensar seu modelo de gestão
Jogadores do Fluminense em campo: o campeão brasileiro de 2012 é
um dos mais endividados
São Paulo - O futebol brasileiro tem aproveitado — ao menos dentro
do campo — a estabilidade da economia e a valorização da moeda nacional nos
últimos anos. Desde 2007, quando o país foi escolhido como sede da Copa de
2014, os clubes brasileiros deixaram de vender jogadores em massa para o
futebol internacional.
O que era impensável há alguns anos tem sido possível agora, como
manter um ídolo como Neymar, repatriar Ronaldinho Gaúcho e Luís Fabiano e
contratar estrangeiros como o uruguaio Forlán. Isso ocorre porque os times
brasileiros nunca tiveram tanto dinheiro em caixa. A receita dos maiores clubes
do país cresceu 35% em quatro anos, e a previsão é que ultrapasse 3 bilhões de
reais em 2012.
A má notícia é que, apesar do crescimento recorde das receitas, as
dívidas têm
aumentado ainda mais (veja quadro). Se os clubes brasileiros fossem empresas, a
maioria estaria à beira da falência. “Para compensar a queda na venda de
jogadores, os clubes correram atrás de dinheiro novo, aumentando sua receita
com direito de TV, patrocínio e licenciamento de produtos”, diz o consultor
Amir Somoggi, especializado em marketing e gestão esportiva. “Mas os clubes não
estão sabendo gerir esse aumento da receita.”
Um exemplo de sucesso dentro do campo — e mau desempenho fora dele
— é o Fluminense, que venceu dois dos últimos três campeonatos brasileiros.
Sustentado por um patrocinador há mais de uma década — a operadora de plano de
saúde Unimed Rio de Janeiro —, o clube não adotou uma gestão profissional.
A Unimed é uma espécie de mecenas do time: compra jogadores, paga
os salários e assume as principais despesas do futebol. Em um estudo
recente, o banco Itaú BBA classificou como “caixa preta” as finanças do
Fluminense, pela dificuldade de avaliar seus números e sua relação com a
Unimed. Em 2011, o Fluminense encerrou com a segunda maior dívida entre os
times brasileiros, atrás apenas do Botafogo.
Sair do enrosco financeiro em que os clubes se meteram não é
tarefa fácil mesmo para administradores com experiência no mundo corporativo. É
o que descobriu a nova diretoria do Flamengo, eleita no início de dezembro. O
novo presidente, Eduardo Bandeira de Mello, é um executivo de carreira do
BNDES, onde trabalha há 25 anos. Antes das eleições, Bandeira e sua equipe, que
conta com Carlos Langoni, ex-presidente do Banco Central, imaginavam que
bastaria aplicar um choque de gestão no Flamengo.