quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Clubes brasileiros têm sucesso só nos campos

Os principais clubes brasileiros aumentam suas dívidas enquanto colecionam títulos. Eles poderiam aproveitar a Copa para repensar seu modelo de gestão
Daryan Dornelles/EXAME.com
 
Jogadores do Fluminense em campo: o campeão brasileiro de 2012 é um dos mais endividados
São Paulo - O futebol brasileiro tem aproveitado — ao menos dentro do campo — a estabilidade da economia e a valorização da moeda nacional nos últimos anos. Desde 2007, quando o país foi escolhido como sede da Copa de 2014, os clubes brasileiros deixaram de vender jogadores em massa para o futebol internacional.
O que era impensável há alguns anos tem sido possível agora, como manter um ídolo como Neymar, repatriar Ronaldinho Gaúcho e Luís Fabiano e contratar estrangeiros como o uruguaio Forlán. Isso ocorre porque os times brasileiros nunca tiveram tanto dinheiro em caixa. A receita dos maiores clubes do país cresceu 35% em quatro anos, e a previsão é que ultrapasse 3 bilhões de reais em 2012.
A má notícia é que, apesar do crescimento recorde das receitas, as dívidas têm aumentado ainda mais (veja quadro). Se os clubes brasileiros fossem empresas, a maioria estaria à beira da falência. “Para compensar a queda na venda de jogadores, os clubes correram atrás de dinheiro novo, aumentando sua receita com direito de TV, patrocínio e licenciamento de produtos”, diz o consultor Amir Somoggi, especializado em marketing e gestão esportiva. “Mas os clubes não estão sabendo gerir esse aumento da receita.”
Um exemplo de sucesso dentro do campo — e mau desempenho fora dele — é o Fluminense, que venceu dois dos últimos três campeonatos brasileiros. Sustentado por um patrocinador há mais de uma década — a operadora de plano de saúde Unimed Rio de Janeiro —, o clube não adotou uma gestão profissional.
A Unimed é uma espécie de mecenas do time: compra jogadores, paga os salários e assume as principais despesas do futebol. Em um estudo recente, o banco Itaú BBA classificou como “caixa preta” as finanças do Fluminense, pela dificuldade de avaliar seus números e sua relação com a Unimed. Em 2011, o Fluminense encerrou com a segunda maior dívida entre os times brasileiros, atrás apenas do Botafogo.
Sair do enrosco financeiro em que os clubes se meteram não é tarefa fácil mesmo para administradores com experiência no mundo corporativo. É o que descobriu a nova diretoria do Flamengo, eleita no início de dezembro. O novo presidente, Eduardo Bandeira de Mello, é um executivo de carreira do BNDES, onde trabalha há 25 anos. Antes das eleições, Bandeira e sua equipe, que conta com Carlos Langoni, ex-presidente do Banco Central, imaginavam que bastaria aplicar um choque de gestão no Flamengo.